Bassi, o Imperador da Carne
Por Arnaldo Comin
Quem já se arriscou a comandar uma churrasqueira sabe que é uma tarefa nada fácil. E mesmo aqueles que fazem do churrasco uma profissão de fé nos fins semana, a busca da maciez ideal, novos cortes e acertos de ponto pode se tornar obsessão para toda a vida. Como no futebol, comandar um bom churrasco requer domínio sobre as peças disponíveis, ter ritmo de jogo, manter a chama acesa, saber recuar nos momentos de fastio, responder à pressão da arquibancada e guardar aquele lance de mestre na hora correr para o abraço.
Se fosse técnico, Marcos Guardabassi, ou simplesmente Bassi, teria a admiração da torcida do Tite com o requinte de Pep Guardiola. Há muito tempo, Bassi é fenômeno de público e de crítica, um imperador das carnes.
A incrível história deste italianão típico do Brás paulistano finalmente virou livro. “Carnes e Churrasco”, lançado esta semana pela Editora Senac, conta a saga deste personagem que reinventou a figura do “açougueiro”, a partir de longas entrevistas com o jornalista, escritor e perguntador incansável Chico Barbosa. Com uma edição esmerada, em capa dura e farta em ilustrações, a obra é literalmente de se comer com os olhos, uma ode à degustação da carne.
Expoente do “churrasco-arte”, Bassi tem origem humilde e começou pequeno, literalmente com miúdos. Com apenas 15 anos, após a morte precoce do pai, Bassi abriu uma pequena barraca com a família no Mercadão, tempos áureos em que fervilhava como o maior ponto de comércio de alimentos da cidade.
Filho e neto de alfaiates, Bassi se interessou mesmo pelos cortes das carnes. Com apenas sete anos, observava atentamente, dia após dia, o trabalho metódico de seu Praxedes, açougueiro do Brás e amigo da família. Da barraca de miúdos para o primeiro açougue, que sabiamente reconfigurou para uma “casa de carnes”, não durou muito. O mesmo para o negócio de restaurantes. À frente do Templo da Carne, no tradicional bairro da Bela Vista, Bassi recebe legiões de devotos, ricos e famosos, ou simplesmente fãs anônimos de seus cortes.
A obsessão pela qualidade e uma curiosidade infinita fizeram com que Bassi literalmente reinventasse a figura do “açougueiro”, dando nova roupagem ao ofício. Avental limpo, ambiente impecável e boas maneiras deram às boutiques modernas de carnes refinamentos de alta costura.
Como bom vendedor e entusiasta pelo que faz, Bassi sempre esbanjou simpatia como poucos, fazendo de clientes em primeira visita amigos para toda a vida. Na noite de estreia do lançamento do livro, em São Paulo, era possível conferir de perto esse carisma. Chamava a atenção na fila de autógrafos um rapagão de vinte e poucos anos, dizendo emocionado que havia vindo de Recife só para conseguir uma dedicatória do mestre. Como um garoto cara a cara com seu astro da NBA.
“Carne e Churrasco”, porém, não se limita a contar histórias de vida. Bassi gosta mesmo é de falar do que sabe, como deixa claro o título do livro. Rico em fotografias explicativas, o leitor poderá conferir dezenas de dicas e ensinamentos sobre os principais cortes, a lida com o fogo, uso de sal, ponto de maciez, com direito até a infográficos detalhados sobre as partes do boi e a “churrasqueira” ideal.
Mesmo para quem não é tão carnívoro assim, o lançamento da Editora Senac encanta pela homenagem ao universo dar carnes e seus personagens. Uma celebração a todos os amantes da boa gastronomia.
O Livro:
“Carnes e Churrasco”
Editora Senac
130 páginas
São Paulo, 2012
O Autor e Personagem:
Marcos Guardabassi. Referência no mundo das carnes, atua como açougueiro, como gosta de dizer, há mais de 50 anos. É dono do Templo da Carne, um dos restaurantes mais conceituados do ramo em São Paulo.
O Jornalista:
Chico Barbosa. É escritor, editor e doutorando em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Foi repórter no Jornal da Tarde, O Estado de S. Paulo e Valor Econômico, e colunista na Rádio Band News FM. À Frente da CB News, escreveu e editou A chave do Sucesso: como a Audi de tornou Cult, ganhador do prêmio Jabuti em 2005. Também é autor de Passione: um roteiro pela toscana (2010) e coautor de Na mesma sintonia: o rádio na vida e na obra de Orlando Duarte, lançado pela Editora Senac, em 2008.
Fonte: Uma resenha da RUA DO ALECRIM
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